Desde os primórdios de sua existência, o homem caminha numa trajetória de evolução, movido por sua inquietude e curiosidade em desvendar o mundo. Contudo, os canais que o levam a essa busca se completam e ao mesmo tempo se confundem, uma vez que vão de encontro às crenças já adquiridas, impondo-lhes a necessidade de sobrepô-las para a concepção de novas idéias que ampliem o seu raio de compreensão. Esse processo requer uma flexibilidade para o conhecimento da “verdade”. Mas, como conceituar a verdade, se esta é intangível, tem inúmeras facetas que variam a cada olhar?

Religião, ciência e filosofia. O encontro entre a crença, o conhecimento e a verdade. Porém, é complexo estabelecer uma convergência de idéias entre essas três vias de raciocínio, quando cada uma diverge entre si. Dentro da própria religião existem diversas linhas de crenças e dogmas que variam e, principalmente, se conflitam. Na filosofia, pensadores defendem teorias contraditórias. A própria ciência, a que mais “desconfia” da veracidade das nossas certezas e está sempre em busca do que pode ser “cientificamente comprovado”, a cada dia faz novas descobertas que invalidam as anteriores.

Em meio a todas essas conjeturas, existe outro fator preponderante: o homem na sua individualidade. A forma como ele está posicionado no universo onde vive, sua cultura, seus valores, sua condição intelectual e tudo a que teve acesso, determinam a sua capacidade ou limitação de absorção de todos os conhecimentos. Antes de ter acesso à informação é necessário estar preparado para compreendê-la. Falar sobre aritmética a um analfabeto é como discutir física quântica, por exemplo, com um protestante radical que está limitado a aceitar absolutamente os dogmas que a religião lhe impõe.

Esses conceitos se tornam ainda mais intrigantes ao considerarmos que a inteligência não é suficiente para a compreensão de determinados conceitos. Faz-se necessária a sabedoria. Esta, por sua vez, não pode ser aprendida em livros, e pode não ser uma qualidade, obrigatoriamente, dos intelectuais. Mas, paradoxalmente, é possível ser claramente percebida na simplicidade do homem do campo, no rude vocabulário com o qual fala com tanta propriedade acerca de Deus e da natureza. Isto, porque estar preso a dogmas não depende de grau de escolaridade, mas da cultura na qual está inserido o indivíduo e dos fatores que limitam as suas crenças e determinam os seus valores. Quantas vezes nos deparamos com discursos que nos parecem limitados e retrógrados, de pessoas que passaram muito mais tempo que nós em academias, somando muito mais títulos e diplomas. Os tão comuns intelectuais, pouco sábios.

Em pleno século vinte e um, boa parte da humanidade não está apta a perceber como verdade, fenômenos comprovados pela ciência. Quanto mais, permitir-se acreditar na hipótese de que a verdade é efêmera, podendo ter, ainda, várias nuances, a partir do prisma pelo qual é observada. É bem mais cômodo eleger uma verdade e tomá-la como única e imutável. O conhecimento é uma busca constante e requer muita abertura para conceber o novo e sair da ignorância estática, do “não saber que não se sabe”, pois, a cada instante, fatos inéditos estréiam no palco da vida. Mas, somente quando se tem a porta da mente descerrada é possível ceder às inúmeras possibilidades, mesmo que estas venham de encontro às velhas crenças.

O conhecimento nada mais é que a busca da verdade. Religião, ciência e filosofia são vertentes que o homem utiliza para preencher as suas lacunas, suas interrogações sobre a sua origem, o seu destino e todos os porquês que o circundam. Ao mesmo tempo em que esses canais se conflitam e se contradizem, eles também se complementam, tornando difícil desassociá-los quando fazemos as nossas reflexões sobre tudo o que concerne à vida e ao universo no qual nos inserimos.