Pois é. Tudo começou num domingo enquanto eu caminhava no lago perto de casa. Aliás, “caminhar” é algo atlético demais para mim. Minha filha que é piolho de academia e vive metida nessas maratonas e pedaladas noturnas, sempre solta um risinho irônico quando batemos à porta de seu quarto nas tardes de domingo pra avisar que estamos indo fazer o nosso “cooper”. Ela costuma dizer que eu e meu marido fazemos um “passeio” no lago, enquanto admiramos a paisagem e jogamos conversa fora. Depois, completamos a inutilidade do semi-exercício comendo um pastel calórico.
Mas, nesse domingo, eu dizia para o meu companheiro de caminhada (em todos os sentidos) que, definitivamente, eu ia malhar de verdade. De uma hora para outra, bem ao estilo “fogo de palha”, eu estava determinada em manter uma atividade física frequente e pra valer. Isso era pauta do meu caderninho de “metas para 2010”. E já fazia as minhas conjecturas do tempo recorde que eu levaria pra estar com os músculos das minhas pernas ao ponto de matar de inveja a rainha de bateria da Beija Flor.
Meu marido ouvia tudo com uma cara de pouca fé, esboçando o seu típico “hunrum” a cada pausa da minha fala. Na verdade, aquilo era mais uma terapia de auto-persuasão intensiva, e quem eu mais tentava convencer era a mim mesma. Apesar dos meus cinquenta quilos, nada demais, perder três míseros quilinhos era uma questão de honra para mim, e a coisa mais difícil da minha vida.
Decidi naquele mesmo dia (antes que eu desistisse dos novos propósitos), ir à Centauro comprar halteres, caneleiras, e um colchonete para fazer as minhas duzentas abdominais diárias. Como o meu marido jamais joga um balde de água fria nos meus planos (graças a Deus), ele se prontificou a ir comigo pra me dar um apoio moral. A idéia era alternar caminhadas com exercícios em casa, já que eu tenho um verdadeiro abuso de academia.
Mas, nesse domingo, eu dizia para o meu companheiro de caminhada (em todos os sentidos) que, definitivamente, eu ia malhar de verdade. De uma hora para outra, bem ao estilo “fogo de palha”, eu estava determinada em manter uma atividade física frequente e pra valer. Isso era pauta do meu caderninho de “metas para 2010”. E já fazia as minhas conjecturas do tempo recorde que eu levaria pra estar com os músculos das minhas pernas ao ponto de matar de inveja a rainha de bateria da Beija Flor.
Meu marido ouvia tudo com uma cara de pouca fé, esboçando o seu típico “hunrum” a cada pausa da minha fala. Na verdade, aquilo era mais uma terapia de auto-persuasão intensiva, e quem eu mais tentava convencer era a mim mesma. Apesar dos meus cinquenta quilos, nada demais, perder três míseros quilinhos era uma questão de honra para mim, e a coisa mais difícil da minha vida.
Decidi naquele mesmo dia (antes que eu desistisse dos novos propósitos), ir à Centauro comprar halteres, caneleiras, e um colchonete para fazer as minhas duzentas abdominais diárias. Como o meu marido jamais joga um balde de água fria nos meus planos (graças a Deus), ele se prontificou a ir comigo pra me dar um apoio moral. A idéia era alternar caminhadas com exercícios em casa, já que eu tenho um verdadeiro abuso de academia.
Na manhã seguinte, já levantei da cama com pesos amarrados aos tornozelos e alteres na mão. Já na descida para o café-da-manhã, aproveitei o último degrau da escada pra fazer uma série exercícios nas panturrilhas. Chegava no trabalho esnobando as minhas duzentas flexões abdominais, deixando de queixo caído todas as colegas de sala.
Minha filha estava orgulhosa de mim, mas não perdia a oportunidade de mangar da minha cômica performance, carregando os acessórios de ginástica de um canto pra outro da casa. Se auto-elegeu minha personal trainer e pegou duro na correção de postura durante os exercícios. Quando meu marido chegava em casa, eu me exibia em poses de halterofilista. Terei colocado a minha sanidade em questão?
Tudo estava correndo às mil maravilhas nos primeiros quinze dias. Mas, bastou a minha primeira semana de viagem a trabalho pra toda a minha disposição ir de ralo abaixo. Embora quase todo hotel tenha academia e, evidentemente, toda cidade tenha rua para caminhar, depois de um dia puxado longe de casa, eu quero mais é que o mundo acabe.
Voltei para Fortaleza e nunca mais olhei para os acessórios de ginástica. Eu já estava “antipatizando” aqueles alteres, com repulsa de andar com pesos nas canelas pra cima e pra baixo, como se eu fosse uma presidiária.
Convencida de que por conta própria eu não iria a lugar nenhum, matriculei-me na academia onde a minha filha já malhava. E, para garantir, fiz logo um pacote de seis meses e paguei adiantado. Assim, por pena do meu suado dinheirinho, eu me obrigaria a comparecer.
A minha filha Manuela passou a malhar comigo, todas as noites. O povo comentava, achava lindo mãe e filha ali, pegando no pesado, bem amiguinhas. Se eu faltasse um dia, todo mundo perguntava “cadê a mamãe?”. Até que eu faltei uma semana, um mês, e ninguém lembrou mais de mim. E, embora eu não tenha esquecido os meus chequinhos pré-datados, abandonei.
Algum tempo depois, minha amiga Michelle apareceu saltitante, contando que estava fazendo jazz. Fiquei tão tentada... Lembrei dos velhos tempos que eu fazia dança no colégio. E a minha mãe vai saber agora que eu até gazeava aula pra ensaiar para os festivais, de tanto que eu amava jazz com todas as minhas forças. Pior é que a minha amiga Michelle tem nada menos que três filhos! Três, entendeu? Uma escadinha que começa com o caçula de oito meses. Contando com o marido, são quatro homens pra ela dar conta. E (para o meu despeito) ainda arruma disposição e tempo pra fazer jazz? Uma provocação!
- Ohw amiguinha, vamos fazer comigo, vamos! Só uma aulinha... - disse ela com sua típica voz de gata miando.
Eu fui? Fui. E saí toda moída. Quebrada! Até porque, eu me mostrei um pouquinho. Mas, acordei com uma ressaaaca no dia seguinte. Só de lembrar eu fazendo plié, demi-pilé, tendu, meia-ponta... Meio ridículo, né?
Frustrada, procurei minha irmã, Ana Paula, amicíssima, que compreende todos os meus dramas e sempre tem uma solução para os meus “problemas”. Quando eu borro a unha, logo após ter saído da manicure, é pra ela que eu ligo. Digo que estou arrasada, e ela me entende, me conforta e me dá toda razão por eu estar inconformadamente chateada, destruída. Contei-lhe da aula de jazz, que fiquei dando saltos no ar imitando uma pluma, fazendo piruetas como se estivesse abraçando a cintura do Jô Soares, como uma, uma... bocó!
Ela achou o “ó”, e me convenceu de que eu tinha mesmo era que entrar numa academia pra me sentir motivada. Mas, tinha que ser “a” academia. Aquela que fosse realmente estimulante. E, para isso, iríamos garimpar até encontrar a tal, mega-super-ultra-astral – e já se predispunha a embarcar comigo na empreitada porque, nem morta, eu iria humilhá-la com a minha barriga de tanque.
Foi aí que surgiu a grande idéia! Iríamos fazer várias aulas experimentais nas Academias de Fortaleza, até achar a ideal. Na primeira, fizemos uma aula de spinning. Eu queria provar pra minha irmã o quanto eu estava em forma, tipo “me mostrar” mesmo. Então, pedalei mais do que devia, tentando ser mais rápida e resistente que ela. Embora o professor recomendasse pra eu pegar mais leve, pois era a minha primeira vez, eu teria ido da Barra do Ceará à Praia do Futuro nos primeiros vinte minutos, se estivesse sobre uma bicicleta de verdade.
Dali a pouco a minha irmã olhou pra mim e viu que alguma coisa estava errada. Diz ela que eu, que já sou branca, estava tão pálida, que mais parecia uma alma penada. Alguns segundos e eu (pasmem) vomitei o chão, já revirando os olhos numa crise de hipoglicemia que me fez pagar o mico mais caro de toda a minha vida. O professor gritou pra uma aluna pegar uma garrafa de Gatorade na cantina, urgente. E, além da minha irmã, tinham mais três pessoas me abanando. Quando retornei, vi várias cabeças em círculo sobre mim.
Terminada a marmota, eu e minha irmã pusemos os rabinhos entre as pernas e “puxamos o carro” dali, jurando nunca mais por os pés naquela academia de tanta vergonha. Foi triste! Depois fomos à outra, e outra... Cada uma, um defeito: longe demais, lotada demais, estacionamento de menos, muito cara, os aparelhos eram nojentos, eca!
O meu enteado já estava nos chamando de irmãs metralha: -“Onde vocês vão dar o golpe, hoje?" - Ele é outro que vive malhando e só passa por mim de peito inflado. Eu vivo correndo atrás dele com uma trena na mão pra medir o seu bíceps braquial. Ele adora quando eu abro as duas bandas da porta pra ele passar (como se ele fosse enorme), fazendo um teatrinho de exclamações.
Certa manhã, enquanto eu desabafava a nossa indefinição, o meu marido teve uma crise de riso que quase o fez engasgar com café. – O quê foi? – perguntei. Ele falou que era melhor tomar logo uma decisão, antes que a gente se deparasse com um cartaz bem grande nas academias, com a nossa foto e a manchete: “Cuidado com as irmãs 171”.
Pois foi. Agora estamos correndo na praia. Quer dizer, hoje foi o nosso primeiro dia. Mas, eu chego lá. Vocês vão ver!
Foto: da esquerda para a direita, minha maninha Ana Paula e eu.