Sinto-o partir a cada dia, pouco a pouco. Tão breve, que mal posso detê-lo. Sei que logo irá para sempre, deixando lembranças de um tempo feliz. É mais um que se vai, como outros tantos. Talvez eu não o esqueça nunca. Decerto, sentirei alguma nostalgia. Nem que seja na despedida, pois não sou de pedra. Mas, até já me pego pensando no outro. O que está por vir.

Haverá de ser igualmente bom, ou melhor. E chegará tão logo ele se vá. Trazendo amor, harmonia e novas oportunidades de aprendizado e realização. Obrigada, dois mil e nove. Sou grata a Deus. Adeus...



Quando eu tinha vinte e poucos anos, achava que tudo girava em torno daquele tempo. O tempo presente. Eu tinha a sensação (quase uma certeza) de que as coisas não tinham a mesma graça, ou faziam o mesmo sentido depois dos trinta. Era como se as emoções só fossem vivas e intensas durante um período que eu julgava ser a “juventude”. Havia em mim uma pressa em ser feliz, um espírito missionário de “consertar” pessoas e coisas, e fazer as minhas escolhas darem certo a qualquer custo. E com essa determinação eu me achava capaz de transformar tudo o que considerava aquém das minhas expectativas (ai, como eu era “sofredora”).

Até que os anos passam, voam, e o tempo presente continua a nos parecer insuperável, o momento ideal para sermos felizes e realizarmos os sonhos de agora, mais sólidos ao nosso “olhar maduro”. Deixamos de gastar energia com coisas que passamos a considerar pouco importantes. Aprendemos sobre a nossa incapacidade de mudar o que não depende exclusivamente de nós, e paramos com esse propósito. Aceitamos ou deixamos de lado, as tais coisinhas. Simples! E, o melhor de tudo, é que enxergamos o real valor de cada uma delas. Em síntese, é muito mais fácil ser feliz depois dos trinta! Dos quarenta... (a não ser que estejamos mortos em vida).



Esses dias, eu estava com o “quinteto” no nosso entusiástico almoço semanal, quando um telefonema inesperado deixou atônitas as irmãs Markan. Uma tia muito querida, que nem estava doente nem nada, subitamente morreu. Aliás, prefiro o termo desencarnou. A palavra morte denota o fim de tudo, coisa que de fato não existe pra mim. Mas, enquanto o garçom fechava a conta, eu buscava palavras (se é que elas existem nessas horas) para confortá-las. Elas estavam muito abaladas (e perplexas) porque um dia antes a tia estava em perfeito estado. Isso nos fez refletir brevemente sobre a fragilidade da vida. Reflexão que me acompanha até esse instante, e que compartilho agora.

Essa chama que é a vida só precisa de um sopro para se dissipar. Simplesmente acontece. Ninguém está imune. Porém, habitualmente só estamos atentos a essa possibilidade na eminência de algum problema de saúde. Subestimamos a nossa vulnerabilidade. Esquecemos que o corpo humano é suscetível a uma série de ameaças! E nem vou pontuá-las aqui porque esse não é o foco. Eu quero falar daquela vozinha da consciência que clama “criatura, te alui!!!”, quando experimentamos a perda de alguém próximo de nós. É quando vemos claramente o quanto tudo é transitório, efêmero. Tudo. Tudo passa. Esvai-se. A vida cessa (pelo menos esta atual). Também nos faz pensar nos valores do mundo materialista e consumista no qual estamos envolvidos. E num piscar de olhos caem centenas de fichas, enxergamos coisas tão óbvias, vistas antes com uma leviana indiferença. Como por exemplo, a nossa pouca sabedoria em conduzir a própria vida.

Tantas vezes desperdiçamos tempo valorizando coisas sem importância, incitando a raiva, o ressentimento, dando asas a sentimentos pouco nobres como o orgulho (que ingenuamente chamamos de “amor próprio”), nos desarmonizando com pessoas que amamos etc., etc.. Descartamos boas chances de ser feliz. Amiúde, temos mesmo tudo pra ser feliz. Mas escolhemos viver ao sabor das nossas insatisfações e lamúrias. Não damos valor ao que temos de precioso, às pérolas que muitos desejariam em nosso lugar. A qualquer preço.

Mas, essa pouca inteligência também permeia a nossa covardia. De admitir uma vida medíocre. De encarar os problemas de frente. De “chutar o balde”. De mudar. De recomeçar. Empurramos a vida com a barriga (uma vida inteira). Canalizamos a energia de toda uma existência para coisas que deviam ter valido, no máximo, uma fase passageira para servir de aprendizado. E aí? Olhamos para trás e conjecturamos vários “se’s”. Os “e se eu tivesse feito assim”. Os piores erros que cometemos se dão pela atitude não tomada, a palavra não proferida, a decisão protelada. Temos muito medo de arriscar. E esse medo é que nos rouba novas oportunidades. Inclusive, de nos encontrar. Arrepender-se do que fizemos ou do que deixamos de fazer. O que é pior? Às vezes, é melhor correr riscos (com responsabilidade) que ter uma vida desventurada.

Ninguém quer falar sobre a morte, esse destino irrevogável. Escrever essa palavra é até esquisito. Tão pouco pensar que a areia do cone superior da nossa ampulheta da vida pode estar minguando. Todos nós estamos sujeitos a ser surpreendidos pela “ruptura” irreversível. Não importa o que estejamos a fazer, quais projetos tenhamos ainda a realizar. Chegada a hora, c'est fini. O livro fica sobre a cabeceira com o marcador na metade, e vai sobrar três quartos do perfume regrado para as ocasiões especiais. Essa mania de deixar para amanhã, de guardar para depois, de adiar os planos, de ficar criando coragem para fazer o que tem que ser feito já, é pura tolice (pra não dizer burrice).

Vamos usar as taças de cristal, o aparelho de porcelana, os talheres de prata (o perfume francês pode deixar para os momentos especiais). Fazer, agora, as pazes com o nosso amor, pedir desculpas a quem magoamos, sobretudo perdoar! Mas, principalmente, vamos nos esforçar em ser pessoas melhores. Melhores em todos os papéis que desempenhamos na sociedade em que vivemos, no nosso ambiente de trabalho, no nosso lar, com a nossa família. Esse dia que a gente desperdiçou em nome dos nossos caprichos, não volta mais. E amanhã... Amanhã pode não existir.


"Viver, como talvez morrer, é recriar-se: a vida não está aí apenas para ser suportada nem vivida, mas elaborada. Eventualmente reprogramada. Conscientemente executada. Muitas vezes, ousada". (Lya Luft)
...
Foto divulgação.



Tenho sonhos de um futuro simples e pacato, oposto à minha vida urbana. Avesso do meu presente. E entrever esse amanhã me dá insights de felicidade. Ao mesmo tempo, medo. De não me acostumar. De sentir tédio. Mas, por que o desejo tanto? Esse lugar. Onde não existe congestionamento, poluição, estresse, a futilidade e o supérfluo. O tal futuro. Vejo-o, como se já o tivesse vivido. Sinto-o como se me fosse tão próximo. Quero-o, como se o houvesse perdido.

Imagino. Uma casa na Serra, em perfeita harmonia com a natureza e o frio. O despertar cedinho, todos os dias. Quando os primeiros raios de sol se enfiam nas frestas, em fachos de fumaça com purpurina. Lá, me espreguiço sem pressa, ouvindo o cantarolar dos passarinhos. Dou uns gemidos, falo com a voz fina, e entre pausas pra implorar uma cosquinha, conto o meu sonho, sem pé e sem cabeça. Rogo pra não ser interrompida (senão esqueço-o). Floreio pra ficar interessante.

Depois, passo um café moído, desses que empesta a casa com o seu cheirinho. Sobre a mesa, toalha xadrez e a flor no vaso. Flor de verdade, do meu bucólico jardim. Uma janela bem grande na cozinha, com cortina de babadinho. Só pra ver a laranjeira carregada, a horta, e se o cacho de banana está mais maduro.

Uma tapioca com manteiga, enroladinha, feito um charuto. Vou molhar no café - alguém repara? Não, se em xícaras de porcelana, com rosinhas no detalhe. Ao sabor do grão forte, devaneio, faço planos pro almoço. Um risoto de camarão, talvez. Ele pede espaguete à carbonara, com bastante manjericão.

Xícaras na pia, pé na estradinha. Tem flor de mato nas coxias. Sinto o odor da terra úmida, dou bom dia pra vizinha. Proseamos sobre os filhos (umas corujices). E lembramos os velhos tempos, com aliviado saudosismo. A vida corrida, a rotina de trabalho, os filmes devolvidos sem assistir nos finais-de-semana relâmpago. Quando não se podia escolher ficar mais tempo na cama. O tempo que a gente não tinha tempo (de viver).

De volta, chupamos laranjas no alpendre à sombra do ipê que desfolha um tapete amarelo sobre a grama, que eu não deixo varrer. Ele fala de política, discursa sobre o mercado financeiro. Eu cobro a revisão do meu texto e me convido a escrever. Na mesa defronte à janela, acima do monitor, vejo ao longe a pequena cabana que margeia a linha tênue azul. E os pontos escuros que se mexem. Parecem galinhas.

Eu escrevo. Ele estuda uma trava de baixa. Dá vontade de tomar um licor. E já é hora de cozer uma comidinha. Vou direto ao espaguete, ele finge que prefere o risoto. Eu duvido. Risoto, espaguete, risoto, espaguete. Espaguete! Dissimulo predileção. Ele diz que no fundo, queria o risoto. E eu nem acredito.

Passo o bacon com a cebola no azeite que borbulha na panela de pedra-sabão. Ele põe minha taça de vinho e pede muito macarrão. Eu nego (rende às pampas depois de cozido). Ele teima, e enfia mais na água fervente, enquanto colho um raminho de manjericão. Eu resmungo e ele sai de fininho. Vai sobrar e eu detesto requentado. Assim, vão-se uma manhã, um soninho depois do almoço, uma massagem, outras chantagens e uns CDs clássico/instrumental. Baixinho. E um bocado de teimosias.

Mais um cafezinho (com biscoito caseiro) e voltamos pro nosso cantinho na janela. Ele ainda estuda a mesma trava. E estou a reescrever o que já estava escrito. Maldigo meu perfeccionismo. O sol beija a montanha, e o traço azul do rio nem mais se vê. E antes que o céu arroxeie, um passeio pelo quintal. Vemos o que brotou e o que desabrochou. O que amadureceu e o que não foi pra frente. Regamos o jardim. Completamos a água do beija-flor. Babo com a flor que abriu. Assusto-me com um inseto voador. Grito, rio, tá frio. Ele acende a lareira e eu corro pro chuveiro quentinho.

Vai reinar arroz com ovo estrelado pro jantar (de novo). Arroz exalando cheiro de alho, com requeijão e salsinha picada em pedaços microscópicos. Queijo assado crocante, e ovos de gema corada, da galinha corredora de terreiro, da dona Mazé da mercearia. Nada de perder o jornal na tevê, e até me viciei na novela. Uma leitura pra chamar o soninho. Mario Vargas Llosa, se ainda restar algum que eu não li. Por fim, o derradeiro bocejo e uma prece a Deus. E assim, mais um dia vi-vi-do. E a vida já não passa por nós. Em meio a cumplicidades, chamegos e teimosias, somos crianças felizes!
...
Foto divulgação.



Se fosse possível congelar momentos,
Faríamos desses, perpétuos,
Para sentirmos mais uma vez
Cada um desses instantes únicos.

Para coser com linha perene,
Esses retalhos de felicidade.
Dias que viram lembranças.
Fotografias que se emolduram na memória
Como fragmentos de história.

Pois, se a vida é efêmera,
E pela janela do tempo, escapole,
Breve e intangível,
A amizade verdadeira é plena,
E se preserva indelével,
Nas redomas do coração.
.
.
Obs.: por justa reivindicação da nossa linda Déia, mudei a foto (a outra cortava-lhe a cabeça). Somos o único "quinteto de seis" do planeta Terra. Da esquerda pra direita, e de cima pra baixo, somos: Luiza, Ilnah, eu, Renata, Daniele e Andréa.




Desde o ingresso na Publicidade, duas décadas atrás, a minha rotina de trabalho é intensa. Como algumas profissões, a publicidade absorve bastante o nosso tempo e energia. Nos primeiros onze anos em Agência, eu vivi uma época de muito entusiasmo, descobertas e imersão. Mas tudo era imprevisível. Não havia hora certa pra encerrar o expediente, e eu nunca sabia se iria, ou não, conseguir sair pra almoçar em casa (aqui em Fortaleza, as pessoas têm esse bendito hábito). E não foram raras as vezes que eu virei noites trabalhando como um zumbi, debruçada em Campanhas do Governo, na guerra das licitações públicas que prometiam verbas cobiçadíssimas e duramente disputadas entre as Agências (até hoje). Cada parte envolvida tinha uma grande responsabilidade no processo. Então, o estresse era enlouquecedor.

Naquele tempo, a única forma de uma Agência suprir à necessidade por determinado profissional era buscá-lo no próprio mercado, oferecendo-lhe uma proposta financeira compensadora, o que provocava ascensões rápidas e uma grande rotatividade desses profissionais. O único curso de Comunicação, em Fortaleza, só oferecia habilitação em Jornalismo. Portanto, as Agências dispunham apenas daquelas pessoas que trabalhavam na área, com tempo de experiência. Eu mesma, só vim ingressar na faculdade quando já tinha anos de profissão. E, ainda assim, depois de quatro semestres, decidi mudar para o jornalismo, pois além da tendência e gosto pela literatura, o curso não trazia nada de novo pra mim, além de passar uma teoria bem diferente da prática que eu tão bem conhecia.

O jornalismo foi uma paixão que durante a faculdade me fez pensar muitas vezes em largar a publicidade. Nessa época, eu já trabalhava em veículo de comunicação, na área comercial, e durante as manhãs de sábado eu trocava o meu descanso, a minha casa, pela Redação, onde era colaboradora voluntária, por deleite. Eu amava aquele setor do Jornal. Gostava de estar entre aquela gente que respirava informação. Sentia-me no meu habitat. Pouco antes de me formar, pus os pés no chão, e me conscientizei de que eu não tinha idade e nem retaguarda para começar do zero uma nova profissão. Eu já havia construído uma história na publicidade, ganhava um bom salário. Dificilmente conseguiria os mesmos patamares como jornalista. Fiz a opção mais sensata e realista. Em compensação, a publicidade apresentou-me caminhos novos e oportunidades que me proporcionam até hoje boas realizações.

Mas nunca deixei se perder de mim a veia jornalística. Faz parte da minha essência. Nas horas vagas, eu escrevo, eu leio, eu escrevo... Por mero prazer. E quanto mais escrevo, mais necessidade sinto de expressar tudo o que me vem à cabeça. E são tantas coisas, que já fico pensando no próximo texto, antes mesmo de concluir o que estou escrevendo. E, algo me diz que, lá na frente, vou dedicar mais tempo da minha vida à escrita. Eu tenho planos para o futuro. Preparo-me para ele. O futuro. A colheita. De uma vida cheia de histórias pra contar. Um outro estilo de viver. Diferente, ousado. Excêntrico? Talvez. São os meus sonhos de amanhã. Mas, isso, é assunto para a próxima conversa.


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O Ceará é aquele Estado que fica à direita do mapa e tem uma forma bem parecida com a do Brasil. Sua capital, Fortaleza, margeia umas bandas do Oceano Atlântico, onde as águas são de um verde que Deus foi buscar lá na escala Pantone! A areia é fofa e branquinha e as dunas são como montanhas de neve que o vento escultura. Nesse pedacinho do Globo, o céu é mais azul e o sol comparece todas as manhãs, mesmo no inverno, entre um chuvisco e uma neblina. E nem em dias raros de chuva pra valer, Fortaleza anoitece sem ver a luz do astro. Por isso, é também conhecida como “Terra da Luz”.

Conforme já havia falado em “Minha Louca Vida”, durante as minhas viagens pelo Brasil, muitos colegas de profissão ficam entusiasmados ao saber que sou do Ceará. E, de certa forma, estimulados por mim, planejam suas próximas férias aqui. Pois bem! Eis o roteiro prometido aos meus amigos publicitários, pra melhor aproveitarem esse pedacinho porreta do nordeste.

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AV. BEIRA MAR
Onde FicarHospede-se no Meireles, ou bairros adjacentes (Aldeota, Varjota, Praia de Iracema ou Dionísio Torres). De preferência, em hotel/pousada próximo ou na própria Avenida Beira Mar. Fazendo jus ao nome, ela beira o mar da Praia do Meireles, popularmente conhecida como Praia do Náutico. Um pedaço privilegiado da orla de Fortaleza, onde todas as manhãs, e também ao entardecer, pessoas de todas as idades caminham, sentem a vida. As crianças vão no “Trem da Alegria”, uma jardineira que passa tocando aquelas músicas do tempo do “Balão Mágico”, cheia de personagens da Disney, mamães, vovós e algodão doce. Na “Praça dos Estressados” tem sessão de massoterapia pra quem quiser relaxar ao ar livre. Não falta gente no quiosque do energético de guaraná com amendoim. Quem prefere (como eu), saboreia uma água de coco gelada no canudinho, economizando goles, pra não acabar logo.
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ENTARDECER NO PORTO DAS JANGADAS. A FOTO É MINHA (A FILHA E O GENRO, TAMBÉM)
Um pouco mais à frente, o porto das jangadas. Estas, ancoradas às margens de um mar tranquilo, são ícone de cartões postais. Nesse ponto, nos fins de tarde, assistimos à chegada dos pescadores com suas redes carregadas de peixes saltitantes. Alguns passos adiante, esses frutos do mar podem ser comprados fresquinhos, de todas as espécies, nos muitos boxes onde estão à venda, bem em frente à famosa sorveteria “50 Sabores”. Ponto de referência que eu não iria citar a toa, não fosse pra atiçar a sua saliva com o gosto gelado das frutas tropicais do nordeste.

Assim é a Avenida Beira Mar. De um lado, a praia. Do outro, hotéis, prédios suntuosos e restaurantes. Não é uma área adequada para banho. Mas, tem infinitas belezas e o melhor da nossa gastronomia. Há também uma tradicional feirinha que se ergue diariamente no calçadão, com tudo o que oferece o artesanato cearense. São bordados, crochês, rendas, redes, garrafinhas de areia colorida que retratam as paisagens do Ceará, castanha, docinho de caju e suvenires de todos os tipos.

Fortaleza tem atrativos para todos os gostos e estilos. Se você procura uma programação mais jovem, quer ver gente bonita e curtir uma balada, há diversas opções na cidade. À noite, os barzinhos são o ponto de encontro da galera. A partir das 2h da madruga, esses estabelecimentos dão lugar às boates mais badaladas. Depois, a onda é pegar um rango, ou se já for dia, tomar o café-da-manhã em alguma padaria da cidade.
Que barzinhos ir?Zug Choperia (Rua Professor Dias da Rocha, 579 – Aldeota)
http://www.zugchoperia.com.br/
A programação varia entre o jazz e o pop-rock nacional e internacional. Bandas ao vivo com programação de quarta a domingo revezam com vídeos exibidos nos telões.
M Bar (
A. Senador Virgilio Távora, 999, no cruzamento com a Av. Dom Luís, no Varanda Mall).
Gente bonita, cerveja gelada e boa música, ao vivo.
Butiquim (Rua Frederico Borges, 27, loja 1 – Varjota)Os destaques da casa são o bolinho frito feito com massa de feijoada, recheado com bacon e couve, e a moela ao molho de cerveja preta. Oferece música ao vivo nos fins de semana.
Picanha do Cowboy (Av. D Luís, 685 – Aldeota)
O ambiente é rústico com ar country. A música ambiente vem dos dvd’s musicais exibidos, exceto às noites de quinta-feira e sábado, que tem música ao vivo, no gênero pop-rock internacional.
Degusti (Rua Vilebaldo Aguiar, 352 – Papicu)
Esse bar é mais freqüentado pela galera “menos jovem”, digamos, os maiores de 30. O lugar é aconchegante e além da boa comida, você ouve do jazz, blues, pop-rock, à MPB e bossa-nova.
Amici’s Sport Bar (R. Dragão do Mar, 80 - Praia de Iracema)
http://www.buoniamicis.com.br/
Construído em um antigo galpão de cerca de 100 anos, totalmente restaurado e tombado pelo Patrimônio Histórico, o Amici's está localizado na área do complexo que forma o Centro Dragão do Mar de Arte e Cultura, um dos principais pontos turísticos de Fortaleza.
Chopp do Bixiga (Rua Dragão Mar, 108) http://www.choppdobixiga.com.br/
Instalado em um sobrado pertencente a um casario do inicio do século XX, o Bixiga também fica no Centro Dragão do Mar. Famoso pelo apreciado “chopp de vinho”.

Obs.: Amici’s e Bixiga são quase vizinhos, e ficam no Centro Cultural Dragão do Mar. Zug, Picanha do Cowboy e M Bar ficam próximos um do outro. O Degusti fica mais isolado dos demais e não tem outros bares no entorno.
Depois do barzinho, a balada
Mucuripe Club (Travessa Maranguape, 108 – Centro)
http://www.mucuripe.com.br/
Complexo com cinco ambientes super modernos que oferecem diversas opções: da MPB ao Rock, passando pelo Axé, Samba, Forró, Reggae, Hip-Hop, Blues, Música Eletrônica, entre outros. O Mucuripe trouxe à cidade grandes nomes da música nacional e internacional, além de promover festas que já fazem parte do calendário nacional de eventos. Sexta-feira é o melhor dia!
Órbita (Rua Dragão do Mar, 207 – Praia de Iracema)
http://www.orbitabar.com.br/
Essa boate é super freqüentada nas noites de quinta e domingos. Os barmens são famosos pelas acrobacias no preparo dos drinks. E você dança ao som do Pop-rock e Black Music.
Saiu da balada com fome?MonteCarlo Padaria e Delicatessen 24h
http://www.montecarlo.ind.br/
Além de vender massas, pizzas, sanduíches finos e até sushis, o MonteCarlo é uma padaria 24h que costuma reunir a galera nos fins de festa. Para alguns é parada obrigatória pra forrar o estômago, antes de pegar o rumo de casa.
Mas, se você quer “dançar outra dança”, o tradicional forró cearense, vai a dica:
Terça e sexta é dia de forró

Arre Égua (Rua Delmiro Gouveia, 420 – Varjota)
http://www.arreegua.com.br/
O Espaço Cultural reproduz uma cidade cenográfica do interior do Ceará, com suas casas, igreja, clube, casa paroquial, barbearia, mercado público e casa da luz vermelha. Ótima opção para conferir o ritmo cearense: o forró pé-de-serra. Todas as terças e sextas-feiras, a partir das 21h.
Quinta à noite é dia de comer caranguejo na Praia do FuturoO fortalezense tem o hábito de comer caranguejo nas noites de quinta-feira. Já é tradição sair do trabalho e reunir a turma nas barracas da praia. Muitas oferecem o crustáceo ao som de uma boa música e cerveja bem gelada.
Algumas opções:
Vira Verão
http://www.barracaviraverao.com.br/
Itapariká
http://www.itaparika.com.br/
Coco Beach
http://www.cocobeachbrasil.com/
Croco Beach
http://www.crocobeach.com.br/



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A Praia do Futuro também é indicada para o dia. Entenda uma coisa: as praias de Iracema e Meireles são para passear, admirar e curtir a gastronomia. Mas, não são adequadas para banho e não têm barracas bacanas. Portanto, se você quer pegar uma praia em Fortaleza, o lugar é a Praia do Futuro. De contrapartida, para hospedagem eu não indico. Esta última, fica distante de todo o resto e não oferece quase nada no entorno, além da praia.

Há outras opções para banho, como o Porto das Dunas, onde fica o Beach Park, e as praias um pouco mais distantes. Já, já, a gente fala sobre essas opções imperdíveis. Mas não deixe de ir um dia à Praia do Futuro pela manhã. Escolha um quiosque pertinho do mar, ou fique dentro da barraca. Pra quem não conhece, “barraca de praia” em Fortaleza, especialmente, na Praia do Futuro, significa “infra-estrutura” da melhor qualidade. E eu chamo a atenção para esse detalhe porque ainda não passei por nenhuma cidade praiana do Brasil (e eu incluo todo o nordeste), que ofereça em variedade e qualidade, barracas a beira-mar do porte que a Praia do Futuro oferece. Elas têm piscina, parque aquático, massoterapia, banheiros sofisticados e alta cozinha. Tudo isso em plena praia e à beira-mar.

Não é improvável que você aviste um grupinho de gringos acompanhados de mulheres nativas. O turismo sexual existe, infelizmente. E você não está livre de se deparar com esse tipo de coisa. E ele não precisa estar escrachado. Às vezes, está subentendido nas aparências.

Tardes de sábado:
Colher de Pau – (Rua Ana Bilhar, 1178 – Varjota)
http://www.restaurantecolherdepau.com.br/
Tradicional casa cearense, especialista em cozinha nordestina. O pagode anima as tardes de sábado (a partir das 16h) e reúne muita gente jovem e solteira.

Se você faz um estilo mais pacato, e deseja uma programação mais cultural e gastronômica, seguem sugestões:Pôr-do-sol na Ponte dos Ingleses

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A Ponte dos Ingleses, popularmente conhecida como Ponte Metálica, costuma reunir as famílias e casais enamorados, só pra ver o pôr-do-sol, nesse bucólico recanto sobre o mar. Chegue às 5h. Em meia hora o sol se põe. É um espetáculo da natureza.
O sol se pôs?
Então, vá para o Centro Cultural Dragão do Mar!

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A boa, depois do pôr-do-sol na Ponte dos Ingleses, é ir direto para o Dragão do Mar que fica pertinho. Nesse centro cultural, você tem várias opções de museus, teatros, galerias de arte, cinemas, um planetário e muitos barzinhos. Enquanto chega a hora do chopp, não vai faltar o que fazer nesse complexo de arte e cultura. Tem um palco ao ar livre, onde há sempre shows de artistas da terra abertos ao público. E vale jogar conversa fora ao sabor do delicioso “Café Ouro Negro”, o carro-chefe do charmosérrimo Café Santa Clara (meu lugar preferido do Dragão).
Humor
O Ceará é berço do humor. Chico Anísio, Renato Aragão, Tom Cavalcante, Tiririca e Adamastor Pitaco são bons exemplos. Então, durante o ano inteiro, Fortaleza tem uma agenda de shows humorísticos de artistas locais, que acontecem em churrascarias, pizzarias, barracas de praia e teatros. Quando estiver em Fortaleza, adquira um dos jornais da cidade e consulte essa programação no Caderno de Cultura. Vir a Fortaleza e não assistir a um show de humor é como ir a Buenos Aires e não ver o tango.
Gastronomia. Lugares especiaisQuer comer o quê?
Frutos do Mar
Coco Bambu Frutos do Mar
(Av. Beira Mar, 3698)http://www.restaurantecocobambu.com.br/fortaleza.php - O lugar é super sofisticado, confortável, climatizado, tem vista para o mar, e a comida é perfeita. Ótima opção para o almoço e jantar. De dia, escolha uma mesa no mezanino, de frente para a praia, de preferência. À noite, a varanda superior é uma ótima e aconchegante pedida. Ao ar livre, dá direito à brisa e bela vista. Os pratos custam, em média, 60, 80 reais e servem até três pessoas.

Almoço Romântico a La Francesa
Piaf (Rua Silva Jatahy, 942) - Terça a sábado, almoço e jantar. Segunda, a partir das 18h, e domingo das 11h às 18h. Esse pequeno restaurante francês é especialmente aconchegante. No almoço, serve deliciosos pratos executivos com sobremesa inclusa, a preços bem justos (R$19,00). A comida é para comer com os olhos, antes de saborear. Uma verdadeira obra de arte. E a decoração também é um primor.

Comida Típica
Coco Bambu Pizzaria e Tapiocaria
(R. Canuto de Aguiar, 1317 – Meireles)
http://www.pizzariacocobambu.com.br/
Restaurante regional, com decoração rústica e vários ambientes. No almoço, delicioso self service. À noite, pizza no forno à lenha, tapiocas, crepes, etc..

Pizza (forno à lenha)
Coco Bambu Pizzaria e Tapiocaria (Rua Canuto de Aguiar, 1317 – Meireles)
http://www.pizzariacocobambu.com.br/
Geppo’s (Av. Beira Mar, 3222 e Av. Desembargador Moreira , 1011)http://www.geppos.com.br/sis.index.asp?pasta=1&pagina=23
Vignoli (Silva Jatahy, 1600 ou Frederico Borges, 125)
http://www.pizzavignoli.com.br/
Consagrada pela Veja Fortaleza como a melhor pizzaria de Fortaleza. A massa é fininha e crocante e deve ser comida com a mão. Para isso, eles disponibilizam luvas descartáveis. O ambiente é bem aconchegante.

Sefs Services (com ótima comida e ambiente)
Limone (Rua Pereira Valente, 1146)
Regina Diógenes (Av. Desembargador Moreira, 605 B)
Coco Bambu (R. Canuto de Aguiar, 1317 – Meireles)


Sushi
Soho (Avenida Senador Virgílio Távora, 999 - loja 06 – Meireles)Moyashi (Rua Frederico, Borges, 427 – Varjota)
http://www.moyash.com.br/
Dallas (Av. Dom Luis, 1219 – Meireles)
http://www.dallasfortaleza.com.br/
Casa do Frango (Av. Barão de Studart, 789)
http://www.casadofrango.com.br/
Ryori (Av. Dom Luis, 1113 – Meireles)
http://www.ryori.com.br/

Massas
Familia Giuliano (Av. Washington Soares, 909 - Shopping Salinas)
http://www.famigliagiuliano.com.br/fortaleza.html

Rodízio/Buffet
Boi Preto
(Av. Beira mar, 2500)
http://www.churrascariaboipreto.com.br/
Sal e Brasa (Av. Abolição, 3500 – Meireles)

http://churrascariasalebrasa.com.br/site/#/fortaleza/
Spettus (Av. Washington Soares 909 - Shopping Salinas)
Beach Park (Rua Porto das Dunas, 2734 Aquiraz – CE)
O Beach Park é um complexo que abriga várias áreas voltadas para diversão, lazer e turismo. Entre elas, o Aqua Park, o maior parque aquático da América Latina. São mais de 170 mil metros quadrados de diversão e emoção. Oferece várias opções de entretenimento, como o Maremoto, a maior piscina de ondas da América Latina, vários toboáguas, com destaque para o Insano, o mais alto do mundo, com 41m de altura, o rio artificial e nove áreas temáticas. Está localizado a 16 km de Fortaleza. Além do Aqua Park, há o Beach Park Suites Resort e Beach Park Praia, uma área à beira-mar com restaurantes e bar. Se você tiver oportunidade, passe um fim-de-semana no resort do complexo. Ou, no mínimo, um dia inteirinho por lá. Vale muito a pena! Não esqueça o protetor solar. Fortaleza tem uma briza constante que refresca, disfarçando os efeitos nocivos do sol.
Praias
As praias do Ceará são famosas mundialmente. Tudo o que a natureza reúne de belo, pode ser visto no paradisíaco litoral cearense. Cada praia é única, tem sua singularidade. Abaixo, apenas algumas. Veja as fotos e tente descobrir (se for capaz) por qual você se sente mais atraído.

Lagoinha (130 km de Fortaleza)
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Fleixeiras (148 km de Fortaleza)
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Canoa Quebrada (166 km de Fortaleza)
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Praia das Fontes (87 km de Fortaleza)
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Jericoacoara (350 km de Fortaleza)
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Mundaú (150 km de Fortaleza)
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Compras
Monsenhor Tabosa
Uma rua comercial com vários quarteirões de lojas de calçados e confecção local.
Mercado Central
No Centro da cidade, é um bom lugar para comprar todos os tipos de artesanato, lembrancinhas e a tradicional castanha de caju, por um preço justo. Dica: pechinche!

Bem, espero que esse roteiro ajude a fazer mais feliz, a sua estada no Ceará. Aproveito para convidar você, leitor, conterrâneo ou não, a usar o espaço de comentários para considerações, críticas, ou novas dicas que contribuam para mostrar, fielmente, “o melhor de Fortaleza”.
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Fotos divulgação.



Durante o ano inteiro, viajo bastante a trabalho. O suficiente para entrar em pânico, se eu me deixasse impressionar pelo número expressivo de acidentes aéreos nos últimos anos. De contrapartida, procuro encarar com naturalidade os desígnios do ofício, inclusive, pelo aspecto inevitável de, tão frequentemente, ficar longe da minha amada família, de quem recebo o apoio imprescindível. Faz parte, também, a habitual troca do aconchego do lar pelos impessoais quartos de hotel. Sem falar dos enfadonhos aeroportos, conexões, e o “arrumamalaê” estressante.

São tantos destinos que esqueço onde comprei aquela lembrancinha, ou determinado livro, etc.. Aliás, nunca li tanto, quanto ultimamente. Que seria de mim sem a companhia de uma boa leitura nos “chás de cadeira” das salas de embarque, e durante as horas compridas de voo? É uma profissão desafiadora, bem ao estilo aventureiro de uma sagitariana. E que, por outra perspectiva, a que eu prefiro antepor o meu olhar, me permite o privilégio de conhecer muitas culturas, prazeres da variada gastronomia, e um monte de lugares do País. Também contribui para que eu me relacione com muita, muita gente de todos os sotaques, o que me rende grandes e inestimáveis amizades.

Nas minhas andanças, a reincidência de um fato curioso: as pessoas, quase que por unanimidade, demonstram surpresa quando digo que sou de Fortaleza. Um sorriso seguido de pausa e uma exclamação. Um ritual constante quando soa a palavra Fortaleza. E seguem-se os mais rasgados elogios a essa cidade que todos anseiam voltar ou conhecer.

Fortaleza virou estrela, ao discurso persuasivo de uma bairrista cearense. Um tema “quebra-gelo” que sempre precede minhas reuniões de trabalho. E eu não perco a oportunidade, lógico, de pôr um azeite nessa predileção pela Terra da Luz. Assim, depois de “vender o meu peixe”, o convite para umas férias no Ceará ganha um tom de provocação. Uma "viagem na maionese" pelos próximos 60 segundos, enquanto eu me predisponho a fazer um roteiro de tudo o que Fortaleza tem de bom. Onde comer, o que fazer, e lugarzinhos especiais que só quem conhece, indica.

Já teve gente que veio conferir (e aprovou) o Festival de Jazz e Blues da nossa bela Guaramiranga, e várias outras ameaças que se amontoam a cada viagem, nas prosas pré e pós-reunião. Uma boa e nobre causa para elaborar o prometido roteiro (muita responsa!) que pretendo postar aqui, de bandeja e com tapete vermelho, para os meus amigos publicitários de por aí afora. E, também, para quem mais quiser arriscar os conselhos turísticos dessa nativa que adora sua terra natal.

Sinto-me verdadeiramente privilegiada por morar em Fortaleza. Mais ainda, após percorrer quase todo o País. Para mim, o Ceará é um dos lugares mais bonitos e interessantes para se viver. Tenho me deparado com muita coisa de encher os olhos, é verdade. O Brasil é lindo. Mas, também me vejo, por vezes, decepcionada. Cidades, as quais eu guardava grande expectativa, e que me pareceram mal cuidadas, ou velhas, ou tristes.

Desde criança (e quem me conhece na intimidade, bem sabe), eu tenho a mania de adivinhar como vivem as pessoas, se são felizes, tristes, chatas ou legais, a partir das fachadas de suas casas, dos móveis, trajes e fisionomias. Capto tudo em um segundo. Portão aberto é prato cheio pra mim. Crio as minhas impressões e vou construindo as minhas “verdades imaginárias”. É um hobby esquisito e, talvez, engraçado. Gosto de fazer isso. E faço com discrição pra não levar a fama de “reparadeira”.

Às vezes, vejo a felicidade na singeleza do jardim de uma casa simples, nas janelas escancaradas, no vaso sobre a mesinha ou num pé de jambo frondoso. E posso sentir a melancolia na frieza de uma bela mobília, no interior obscuro, no silêncio ou no vazio de uma dessas “portas abertas”, desses muros baixos, onde o meu olhar esticado consegue entrar.

Quando viajo, então, não resisto à prática desse “sacrifício” de reparar a vida alheia. É fascinante pra mim. Cada cidade é um desafio a desvendar. Sempre que possível, gosto de caminhar a pé pelas ruas, principalmente, se eu estiver num lugar friozinho. Sinto a atmosfera, o sol brando tocar a minha pele e vou pensando sobre o jeito de viver daquele povo. Sinto-me cada um deles e experimento sensações inúmeras. Serei normal?

É um exercício interessante quando se está só, longe de tudo e de todos. Um momento só meu, que também me faz pensar na minha própria vida, nos meus projetos para o futuro que são bem ousados, porém, pacatos (talvez eu os conte aqui). Mas, sobretudo, são vivências que me abrem clareiras no propósito íntimo de me tornar uma pessoa melhor a cada dia, mais atenta às pessoas que eu amo, mais segura dos meus valores. E que, portanto, me instigam a zelar pela qualidade dos momentos que estou entre a minha família. Nada me enche mais de alegria, que o dia do regresso ao lar. Sobrevoar Fortaleza é uma euforia. Felicidade é voltar pra casa, onde não só os meus olhos adentram, mas, o meu coração e a minha alma.
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Foto divulgação.



Há vinte anos, eu preparava-me para o nosso primeiro encontro. Estava ansiosa e desejava muito que você fosse uma menina. Não quis saber o sexo durante os nove meses. Optei pela feliz surpresa. E não vivenciei, até hoje, alegria maior que a de te receber. Princesa... Como é bom te chamar assim, sempre. Desde quando você ainda cabia em minhas mãos. O tempo voou, é verdade. Mas é a mesma princesa linda que eu peguei nos braços há exatas duas décadas, razão maior da minha vida. Deus foi muito generoso comigo ao me conceder você. Obrigada por tudo. Por ter se tornado esse ser que me enche de orgulho. Por não ter feito em vão, a minha energia e dedicação... Toda a minha luta, o meu empenho, a minha determinação em prol do teu bem. Errando, tropeçando, pedindo a Deus, luz, mas sempre, sempre, querendo com todas as forças, acertar. A qualquer preço, acertar.

Olho para você hoje e digo, “obrigada Pai”, pois, afinal, deu tudo certo! Está aí, a filha que eu sempre quis. Não, para satisfazer o meu ego, me envaidecer. Mas, para enfrentar a vida, independente de mim. Sei que está preparada porque reconheço em você uma alma boa, uma pessoa do bem. Virtude que sempre te cercará de amigos e que vai te manter próxima de Deus. Sinto que é forte o bastante para se levantar, se acaso cair. Inteligente, para enfrentar os desafios. Capaz de agir com discernimento, portanto, livre para fazer as suas escolhas, construir os seus sonhos e, sobretudo, realizá-los. Lembre-se: ninguém sentirá o seu amor, a sua dor, a sua intuição, viverá a sua vida por você.

Pudera todas as mães confiar em seus filhos, como eu confio em você. Isso me dá uma paz imensurável. Não que eu espere que seja exemplo para o pequeno mundo que nos cerca. Tão pouco, que me poupe de preocupações. Essa paz nasce da certeza de que, faça o que fizer, fará com consciência, como melhor sabe e pode fazer. Não tenha medo de errar. Aprendemos muito com os erros. A vida tem muito a nos ensinar, filha. Às vezes, cometemos bobagens por acreditar que detemos grande conhecimento. Mas, nunca estamos livres de fracassar. Temos esse direito, afinal. Faz parte do processo de evolução, amadurecimento. No entanto, princesa, quando temos o sincero desejo de fazer certo, com dignidade, honestidade... Quando o senso de justiça tem primazia em nosso coração, e buscamos verdadeiramente ser melhores a cada dia, incessantemente... Deus intercede por nós. A nobre intenção é um canal direto com Ele. Sempre haverá uma nova chance, um novo caminho e uma luz a nos guiar. Decerto, no momento adequado, a janela se abre à nossa frente, e uma nova oportunidade “pisca” para nós.

Eu nasci por ti, princesa. Para te receber, te amar incondicionalmente. Você é a coisa mais importante da minha vida. E eu SEMPRE estarei contigo. SEMPRE. Parabéns pelos seus 20 anos. Sei que é uma jovem feliz e com uma história linda para viver. Não importa o tamanho do seu sonho. Ele só precisa ser grande e valoroso para você. Como disse acima: ninguém viverá sua vida por você. Estarei sempre a te apoiar. Eu amo você.


O brasileiro tem uma predisposição impressionante pra subestimar o seu País e supervalorizar o estrangeiro. Embora levemos a fama de ser um povo feliz, paradoxalmente, ostentamos uma insatisfação generalizada. O que não faltam são opiniões vazias, “frases feitas” repetidas. Especialmente, se o Governo for o objeto de discussão. Basta um só comentário pra se incitar um debate. E todo mundo tem uma crítica ensaiada para fazer, seja ao país, ao sistema, ou aos governantes.

Essa reprodução de conceitos bloqueia a nossa capacidade de pensar. A gente parece que tem vergonha de ser brasileiro ou de gostar de ser. “Cult” é criticar. Parece que nos faz sentir “intelectuais”, inseridos na camada mais elitizada da sociedade. Quem gosta do Governo é pobre e burro. Não é o que parece? Muitas vezes, nem nos damos ao trabalho de raciocinar sobre os nossos posicionamentos. E o que é pior: sequer nos informamos, efetivamente, para fundamentar as nossas idéias. Simplesmente copiamos as verdades alheias.

A mídia faz ruminar semanas inteiras uma fala isolada do Presidente da República, quase sempre, desvirtuando o legítimo sentido do contexto, a mensagem intencional. E, aí, nos agarramos aos fragmentos ambíguos do discurso e ficamos indignados! Isso, porque temos certa necessidade de alimentar esse sentimento por tudo o que diz respeito ao Governo. Um bom exemplo foi o termo “marolinha” usado por Lula para fazer uma relação entre a crise no Brasil e no resto do mundo. Marola quer dizer “pequena onda”. Não é o que estamos passando, comparado (entendam, com-pa-ra-do) aos efeitos da crise na Europa e Estados Unidos, com toda essa quebra de bancos, desemprego, pessoas de classe média que perderam suas casas, acampando em praça pública? Desperdiçamos sim, a oportunidade de perceber as reflexões que permeiam, amiúde, as suas simbologias.

É como afirmar que o Presidente não sabe falar, e julgar elogiável aqueles discursos lidos, cheios de termos rebuscados, porém, idealizados e escritos por algum mentor. O que é pior? Pelo menos, Lula é autêntico quando fala de improviso e diz, à sua maneira, o que pensa de verdade. Só quem está absorto de preconceito acerca da pessoa do Presidente, não enxerga a sua genuína sinceridade e espontaneidade, seja quando é feliz, seja quando é infeliz nas suas expressões.

Mas, antes de jogar as nossas expectativas de “salvamento da pátria” nas mãos do Chefe de Governo, devemos lembrar que os nossos problemas tiveram origem há alguns séculos atrás. Por mais que se faça pelo Brasil, é uma utopia esperar que um homem, que nem é Jesus Cristo, seja capaz de mudar radicalmente, em curto ou médio prazo, o cenário do nosso País. Boa vontade faz a diferença em qualquer âmbito. Porém, não obra milagres.

Criticam o Bolsa Família, quando o mundo copia esse programa de distribuição de renda. Falam que o Governo Lula é um antro de corrupção. Mas, é a primeira vez que ricos começam a pagar por seus crimes de colarinho branco. Quando se viu gente do poder ter seus escândalos políticos na mídia, desmascarados? Alguém acredita que isso, antes, não existia? Ou, os Governos antecessores protegiam, acobertavam a corrupção para evitar tremores no exercício de suas gestões?

É bem fato que a imagem da figura presidencial, no Brasil, sempre vai suscitar avaliações negativas. Não que nós não tenhamos o que reivindicar. Longe disso! Eu não estou aqui defendendo o Lula ou propondo uma visão romântica do nosso Governo. Mas, espero que vejamos que apesar de tudo, há muito do que nos orgulharmos. E, se conseguirmos direcionar o nosso foco para o que há de bom no nosso país, teremos posicionamentos mais construtivos e nos tornaremos um povo mais nacionalista. Isso, parece mais inteligente que ficar rasgando seda para os “outros”.

Tem muito brasileiro que vai embora do País em busca de um mundo melhor e mais justo. Mas, aqui está cheio de estrangeiro extasiado com as nossas belezas, riquezas, o nosso clima. Eles dão ao nosso país, o valor que muitos de nós não dão. Aqui, descobrem o paraíso, o melhor lugar para viver e ganhar dinheiro. Nós, somos especialistas em depreciar e falar mal do Brasil. Queremos compará-lo aos países de primeiro mundo, um paralelo infactível, desproporcional, a começar pela população. Pra se ter idéia, o Japão tem 127 milhões de habitantes. A Itália, 58 milhões. Na Espanha são 40 milhões. França, 64 milhões. E Portugal? Apenas 10 milhões. Enquanto isso, o Brasil tem nada menos que 196, quase duzentos milhões! Como não levar isso em consideração? Não é fácil administrar um país tão populoso, com toda a complexidade de problemas acumulados ao longo das décadas. Temos muito o que melhorar, é verdade. Mas, não devemos fechar os olhos para os avanços concretos. O mínimo que podemos fazer é não colaborar para o aumento da "torcida do contra" que, enigmaticamente, existe nesse Brasil apedrejado.

Afinal, a nossa pátria, sempre tão coitadinha, virou o jogo. Conquistamos a auto-suficiência do petróleo. Colocamos uma parcela da população de baixa renda em faculdades particulares, através do PROUNI. Vivemos os melhores índices de reajuste do salário mínimo. O projeto “Luz para Todos” levou energia elétrica para 83% que viviam na escuridão, no meio rural. Tivemos uma redução do “risco país”, auferindo maior credibilidade sobre nossa capacidade de honrar compromissos. Sem falar que, saímos da condição de “país devedor” do sistema financeiro internacional e passamos a credores, agora acionistas do FMI. Lembrando que, desde 1824 o Brasil era um país endividado. Foi nesse ano que contraiu sua primeira dívida externa. Façam as contas! Vamos reconhecer o que mudou para melhor! E, antes de chamar o Lula de analfabeto, nos perguntemos primeiro aonde chegamos com os nossos diplomas. Onde o nosso “canudo” nos levou? Certamente, não somos grande coisa perto de um “da Silva” que pousa ao lado da Rainha Elisabeth e é bajulado pelo presidente dos EUA.


A violência é um tema explorado pela imprensa, desde o princípio da comunicação. Sua cobertura tornou-se cada vez mais tempestiva e de maior alcance de público, ao longo da evolução histórica da mídia. Se nos reportarmos à Primeira Guerra Mundial, os correios e telégrafos já eram instrumento para o envio de notícias aos jornais da época. Na Segunda Guerra, o rádio foi o grande precursor, até que a televisão, acompanhada por milhões de espectadores, transmitisse a Guerra do Vietnã e a Guerra do Golfo. Mas, a comunicação atingiu o seu apogeu quando o mundo inteiro parou para acompanhar em tempo real os atentados terroristas de 11 de setembro, nos EUA.

Na mídia contemporânea, a violência tornou-se pauta obrigatória dos telejornais. Os veículos de comunicação, numa briga acirrada por audiência, apelam para a linha sensacionalista e fazem da tragédia humana um atrativo para prender a atenção do telespectador. A “desgraça” chama a atenção dos viciados e, muitas vezes, até dos desinteressados nessa mídia espetaculosa. O fato é que muitos ficam hipnotizados quando o controle remoto sintoniza algo desse gênero. E a freqüência exagerada com a qual a mídia reproduz o cotidiano da marginalidade, nos causa uma impressão comum dessa realidade. De tão submersos nessa perspectiva de “naturalidade”, extinguimos a “surpresa” das nossas reações. Parece que o senso crítico da humanidade passou por um processo de neutralização. Nos “acostumamos” a esse tipo de conteúdo, e o que deveria ser “chocante” deixou de produzir impacto nas nossas emoções.

Esse fenômeno que é “buscar o infortúnio” nos faz uma sociedade doente. Freud, na sua época, já acreditava que o ser humano tinha uma tendência a buscar experiências destrutivas devido ao seu instinto de morte inconsciente. Mas, é difícil encontrar justificativas para essa “atração” por programas que especulam as desventuras humanas. Em comedidas proporções, é útil estar informado da realidade do crime para nos precavermos e nos protegermos. Quando esse interesse ultrapassa os limites da normalidade, estamos alimentando uma atmosfera pessimista e motivando a proliferação da violência. Ademais, que benefícios sociais e psicológicos esse modelo do “jornalismo apelativo” traz à sociedade? A propagação do crime bem sucedido pode ser um estímulo para os “tendenciosos”, desocupados, excluídos... Os próprios marginais. E para as famílias, é a incitação do medo, da insegurança e do terror.

A criminalidade e as calamidades sociais são uma realidade da qual não devemos estar alienados. Afinal, cada um de nós tem uma parcela de responsabilidade na busca da preservação e integridade social. Hoje, cada vez mais, antropólogos, sociólogos, religiosos, dentre outros, se envolvem na defesa dos direitos das minorias marginalizadas, buscando a promoção da justiça e do bem-estar dos setores desprivilegiados da sociedade. O que não parece nada saudável é o fascínio por esses conteúdos jornalísticos que carregam uma energia densa e negativa, influenciando os nossos sentimentos e impulsos, ameaçando roubar a nossa esperança, otimismo e nossa fé em Deus. Ser seletivo na ocupação do nosso tempo precioso é uma escolha que interfere diretamente na nossa qualidade de vida.


Desde os primórdios de sua existência, o homem caminha numa trajetória de evolução, movido por sua inquietude e curiosidade em desvendar o mundo. Contudo, os canais que o levam a essa busca se completam e ao mesmo tempo se confundem, uma vez que vão de encontro às crenças já adquiridas, impondo-lhes a necessidade de sobrepô-las para a concepção de novas idéias que ampliem o seu raio de compreensão. Esse processo requer uma flexibilidade para o conhecimento da “verdade”. Mas, como conceituar a verdade, se esta é intangível, tem inúmeras facetas que variam a cada olhar?

Religião, ciência e filosofia. O encontro entre a crença, o conhecimento e a verdade. Porém, é complexo estabelecer uma convergência de idéias entre essas três vias de raciocínio, quando cada uma diverge entre si. Dentro da própria religião existem diversas linhas de crenças e dogmas que variam e, principalmente, se conflitam. Na filosofia, pensadores defendem teorias contraditórias. A própria ciência, a que mais “desconfia” da veracidade das nossas certezas e está sempre em busca do que pode ser “cientificamente comprovado”, a cada dia faz novas descobertas que invalidam as anteriores.

Em meio a todas essas conjeturas, existe outro fator preponderante: o homem na sua individualidade. A forma como ele está posicionado no universo onde vive, sua cultura, seus valores, sua condição intelectual e tudo a que teve acesso, determinam a sua capacidade ou limitação de absorção de todos os conhecimentos. Antes de ter acesso à informação é necessário estar preparado para compreendê-la. Falar sobre aritmética a um analfabeto é como discutir física quântica, por exemplo, com um protestante radical que está limitado a aceitar absolutamente os dogmas que a religião lhe impõe.

Esses conceitos se tornam ainda mais intrigantes ao considerarmos que a inteligência não é suficiente para a compreensão de determinados conceitos. Faz-se necessária a sabedoria. Esta, por sua vez, não pode ser aprendida em livros, e pode não ser uma qualidade, obrigatoriamente, dos intelectuais. Mas, paradoxalmente, é possível ser claramente percebida na simplicidade do homem do campo, no rude vocabulário com o qual fala com tanta propriedade acerca de Deus e da natureza. Isto, porque estar preso a dogmas não depende de grau de escolaridade, mas da cultura na qual está inserido o indivíduo e dos fatores que limitam as suas crenças e determinam os seus valores. Quantas vezes nos deparamos com discursos que nos parecem limitados e retrógrados, de pessoas que passaram muito mais tempo que nós em academias, somando muito mais títulos e diplomas. Os tão comuns intelectuais, pouco sábios.

Em pleno século vinte e um, boa parte da humanidade não está apta a perceber como verdade, fenômenos comprovados pela ciência. Quanto mais, permitir-se acreditar na hipótese de que a verdade é efêmera, podendo ter, ainda, várias nuances, a partir do prisma pelo qual é observada. É bem mais cômodo eleger uma verdade e tomá-la como única e imutável. O conhecimento é uma busca constante e requer muita abertura para conceber o novo e sair da ignorância estática, do “não saber que não se sabe”, pois, a cada instante, fatos inéditos estréiam no palco da vida. Mas, somente quando se tem a porta da mente descerrada é possível ceder às inúmeras possibilidades, mesmo que estas venham de encontro às velhas crenças.

O conhecimento nada mais é que a busca da verdade. Religião, ciência e filosofia são vertentes que o homem utiliza para preencher as suas lacunas, suas interrogações sobre a sua origem, o seu destino e todos os porquês que o circundam. Ao mesmo tempo em que esses canais se conflitam e se contradizem, eles também se complementam, tornando difícil desassociá-los quando fazemos as nossas reflexões sobre tudo o que concerne à vida e ao universo no qual nos inserimos.


Desde a pré-adolescência, eu costumava passar horas escrevendo em diários ou criando poemas. Chegada à fase adulta, devido à habilidade em escrever, pessoas em circunstâncias conflituosas me requisitavam cartas, mais amiúde, familiares e amigas íntimas. Depois, as amigas das amigas, e outras que eu sequer tinha a menor proximidade, buscavam em minhas cartas uma esperança para os seus dramas. Eu as ouvia com atenção e escrevia o que me pediam, passando-me por elas, porém, utilizando uma abordagem conciliadora que facilitava a compreensão e o apaziguamento. Escrevi para dois juízes (que reviram processos já homologados), para uma mãe alheia à gravidez da filha solteira, um pai ausente, outro que não honrava a pensão alimentícia, um marido indiferente, uma esposa que abandonou o lar, etc., etc.. Pode até parecer engraçado, mas, as “encomendas” tornaram-se uma coisa comum. De contra partida, fui presenteada em muitas ocasiões, por relatos de meus “fregueses” de bom êxito, objetivos alcançados. Isso bastava para sentir-me recompensada pelo o favor prestado. Uma tarefa que eu não encarava como sacrifício, mas como desafio. O doce desafio de escrever e persuadir. Hoje, as “encomendas” são raras, mas o prazer pela escrita me acompanha. Dedico a essa tarefa, horas de minhas noites e fins-de-semana. Sempre tive a sensação de que, em algum momento, a literatura estaria mais presente em minha vida. Como uma sina. Talvez, por isso, eu tenha cursado jornalismo, mesmo atuando na publicidade. Enfim, começo a postar aqui os meus textos. Já era hora. Vou deixar fluir um pouco de mim, o meu lado oculto. Sem nenhuma pretensão, quero apenas escrever, extravasar os meus pensamentos. Tenho uma mente em erupção.



Dona Lêda é uma mulher de um metro e meio de estatura. Seus olhos grandes denotam “buracos de fechadura” por onde se espia sua boa alma. Nos lábios, o sorriso perpetuado de quem parece nunca ter tragado um só bocado de tristeza. Os negros cabelos são prova de sua vaidade, pintados a rigor antes que um só fio branco lhe constranja. Já fez plástica nos peitos, esticou os couros da barriga, tudo para abrandar os 61 anos, incompatíveis ao eterno “espírito adolescente”. Quer ver dona Lêda derretida? Duvide de sua idade, e terá um cantin em seu coração para sempre!



Aos dezesseis anos, impressionou-se por um rapaz de topete e costeleta elvispresliana que lhe comprou toda a cartela da rifa do concurso “Miss Liceu”. Era um homem pequeno, entroncadinho, que andava a passos curtos bem avexados, com braços levemente flexionados e punhos serrados como um boxeador. Usava uma cabeleira preta, reluzente de brilhantina, e tinha um par de olhos azuis. Cheirava a Pós-Barba Bozzano e não variava o trio capanga, cinto e sapato brancos, que contrastavam com a camisa escura de mangas compridas, dobradas abaixo do cotovelo.


Arrebatado de paixão, rendido pelos grandes olhos e boca carnuda de Ledinha, sem falar nas panturrilhas torneadas abaixo da barra azul-marinho da saia colegial, propôs-lhe com o típico sotaque das bandas do Cariri e a gaguice peculiar: “gostei de ti, que-quero casar contigo”. Uma semana depois, fugiu com a moça alheia e escondeu-a na casa de uma tia.


Ao raiar do dia, bateu palmas no portão do número 498 da Gustavo Sampaio e, da calçada, berrou ao homem que pigarreava atrás da veneziana: “go-gostei de Lêda, robei Lê-lêda, que-quero casar com Lêda”. O que o seu Walter respondeu àquele desconhecido, todo o quarteirão ouviu e estremeceu naquela manhã de 25 de dezembro. Mas, uma donzela não podia regressar ao lar após pernoitar n’outro recinto, mesmo virgem. Tiveram que casar.


O dito era um ébrio bem intencionado, mas de pouco juízo. Além do alcoolismo, queimava duas carteiras de Hollywood por dia. Nem todo o amor roxo que sentia por Ledinha, poupou-a da vida conturbada. E não bastasse o vício, tinha também o ciúme doentio. Para arrematar, deu-lhe três buchos encarrilhados que renderam quatro meninas esgoeladas. Na última barrigada, até fez promessa por um filho macho. E quase surtou Ledinha quando, contrariado, cortou ele mesmo no tronco, os cachos da gorduchinha, pra pelo menos aparentar.


Passados oito anos, cansada, Dona Lêda pediu arrego à família e deu as contas ao marido louco de pedra. Jot'ele-gê, como chama-o Ledinha pelas inicias “JLG”, jamais amou outra mulher. Voltou literalmente pra roça brejo-santense e mantém até hoje, pra quem quiser ver, a fotografia de Ledinha na carteira, sorrindo com seus lábios carnudos, ao lado do calendário de bolso de “padim-ciço”, de quem é devoto.


Mas, foi no segundo casamento que Lêda conheceu o amor e teve, também, a sua maior desilusão. Ainda era bem jovem, na flor de seus vinte e seis anos, quando conheceu o Francisc’Airton, numa corrida de táxi. Caíto, para os íntimos, ou simplesmente “Bem”, para Ledinha, era um cearense que falava um carioquês puxado, por causa de umas férias de janeiro no Rio. Logo, Ledinha e o seu “kit”, o “kit-lasca” (para qualquer pretendente), dividiam a mesma casa com Caíto. A mais nova da escadinha ainda usava bico e comia barro.


O Bem usava umas camisas de javanesa e sorria somente de um lado da boca, o direito, com sua arcada dentária avantajada. Nas noites de sexta-feira, colocava o LP do Júlio Iglesias e dublava “ou me queres ou me deixas...”. Ledinha arriava os quatro pneus e sobressalente! E ele se sentia o próprio “Rulio”. Quer ver todos os caninos, presas e molares (inclusive os sisos) de Caíto, com o seu sorriso diagonal? Diga-lhe que ele é a cara do cantor espanhol (e ganhe um cantin em seu coração para sempre).


Pois bem, com o copo de Rum Montila numa mão (a esquerda), e o cigarro “Chanceler, o fino que satisfaz”, na outra, ele repetia um cacoete, uma moganga, até o término da 3ª dose. Depois de dublar três vezes, a primeira faixa do lado “A”, “Devaneios”, escapulia de fininho. Não antes de chiringar seis gotas de “Toque de Amor”, pensando no slogan da Avon: “a gente conversa, a gente se entende” (depois).


A radiola nas alturas abafava o ronco do Dogde de Caíto, e quando Ledinha dava fé, só restavam o cheiro do “Toque” no meio da casa e a fumaça do motor queimando óleo na rua. Fumando numa quenga e com o coração despedaçado, choramingava até quase o amanhecer, quando o Bem batia em sua porta com um sorriso, aquele diagonal, a moganga, seguidos da velha frase carregada de um carioquês exagerado: “Liêda, vieja beim...”. Ao discurso introdutório de Ledinha, floreado de perguntas “basiquetes” do tipo adonde, com quem e por quê (desgraçado), ele engasgava no “Liêda, vieja beim...”, repetidos a cada pausa do interrogatório. E, de um instante pra outro, como se “puxassem-lhe a tomada”, ele capotava na cama de Cavalo de Aço e tudo.


Morrendo de ódio, Lêda amava loucamente o infeliz. Tirava-lhe os sapatos, desabotoava a camisa cheirando agora a “Topaze”, e ainda ajeitava um travesseiro sob a cabeça do tratante. Pra terminar o ritual, arrancava de suas calças a chave do carro e ia catar fivelas de cabelo e bilhetinhos que a outra deixava só pra azedar o leite. Pois então, num estalar de dedos, passaram-se 25 anos. De lucro, mais duas paridelas que completaram sua prole. Desta vez, salvou-se um par de testículos legítimos.


Tempos depois, quando o dito cujo já estava “sem mel, nem cabaça”, a ex-amante infernizadeira, de tanto ouvir falar da “bondosidade” de Ledinha, se invocou e foi conferir. Bateu palmas em sua porta com o atrevimento autêntico de uma cunhã encomendada! Ledinha, com toda espiritualidade, arreganhou um sorriso seguido de um “pois não”, esticado de simpatia. A ex-rival sentiu um hálito de boa-fé tão puro, mas tão puro, que se desguarneceu todinha. E, dona Lêda, que não guarda mágoa nem ofensa, puxou o convite pra um café quentinho da hora. Prosearam, se abraçaram, “se riram”, e até caçoaram do carcará. Dizem que a outra botou admiração na jovialidade de Ledinha e, inclusive, duvidou de sua idade! Terá Lêda improvisado um cantin?


E assim, foram-se dois casamentos, a coleção do Elvis Presley, 576 maços de Hollywood, um Cavalo de Aço, três LP's “furados” do Julio Iglesias e uma ruma de garrafas com o rótulo do pirata com o papagaio no ombro. Ficaram os filhos. Diz Lêda, que a sorte que não teve no amor, Deus compensou em triplo com esses aí. Sua receita de educação não teve mistério. Com a mesma simplicidade de plantar batatas em terra fértil, ofereceu como solo sua alma digna. Pra regar, encharcou de amor e não economizou carinho. E pronto! Brotaram pessoas de bom caráter, responsáveis, sem vícios e, principalmente, filhos amorosos. Dos seis, nenhum, unzim que seja, enveredou pra o mal caminho. Lêdinha se rasga de orgulho. Pra ela, não tem no mundo todinho, filhos melhores, mais lindos que os dela.


Nas tardes de sábado, chova ou faça sol, enchem o alpendre de sua casa toda a prole, mais os netos que ela adora, a nora e os genros “puxa-saco” e de “sacos-puxados” por ela. E nunca se viu família mais unida, mais companheira, mais virtuosa, mais feliz, que a família que Ledinha, sabiamente, ergueu firme como rocha.


E quanto aos ex-maridos, quando as filhas vão para o “Brejo”, o Brejo Santo, visitar o pai, Ledinha se enfia no carro. E lá chegando “se amostra” com seus cabelos pintados e os peitos turbinados. Se agarra com JLG, andam “de braço” e recordam as doidices. Ele exibe a fotografia desbotada na carteira e repete: “pe-pela lei de Deus, vo-você ainda é-é minha mulher, até que a morte nos sepa-pare”. E o Caíto, "mei-caidão", passados esses anos, não mais lembra tanto o “Rulio” como outrora. Mas, “todora” tá na casa de Ledinha inventando uma coisa pra fazer. Prestexto não falta. E precisa? Todo mundo quer respirar o ar de Ledinha, provar o seu café, ouvir o seu conselho, sentir o seu cafuné, rir da sua piada, se alegrar da sua alegria. Qualquer um que ser seu filho, seu parente, seu pretendente, seu vizinho, seu qualquer coisa, contanto que tenha um cantim em seu coração sem tamanho.